terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

AS LANCHAS DE LUIZ CIRILO




No inicio do século passado, o transporte de cargas e passageiros entre Mossoró e Areia Branca, era feito através de botes e lanchas de Areia Branca ate o porto de Santo Antonio, e de lá em transporte terrestre ate Mossoró. E na volta, traziam também cargas e passageiros.
Com a inauguração do trecho da ferrovia Porto Franco x Mossoró, complemento da ferrovia Mossoró x Souza em 1915, a cidade passou a viver nova era no transporte marítimo, que aos poucos acabou com o trecho Areia Branca x Porto de Santo Antonio, devido à rapidez e comodidade do novo ponto de entrada e saída de cargas e passageiros.
Aí, entraram as “lanchas de Luiz Cirilo”. Inicialmente, seu Luiz Cirilo adquiriu a lancha IDA para fazer o transporte de passageiros entre Areia Branca e Porto Franco. Com o passar do tempo, esta lancha não comportava mais o fluxo de passageiros que aumentava gradativamente. Foi quando ele comprou a SANTA IZABEL, uma lancha de maior porte que atendia a demanda de passageiros, e que passou a executar o serviço da Ida, ou seja, fazer suas duas viagens diárias a Porto Franco. Na parte da manhã, levando os passageiros que iam de trem para Mossoró, e na parte da tarde, trazendo os que de lá voltavam. O trem partia para Mossoró as terças, quintas e sábados na parte da manhã. E as segundas, quartas e sextas, retornava a Porto Franco na parte da tarde.
Na foto acima, a Santa Izabel pronta para zarpar para Porto Franco, e já havia pessoas a espera do retorno da mesma.
Ficou a IDA para viagens eventuais, como por exemplo, quando alguém necessitava de ir ou vim de Mossoró, em outro tipo de transporte que não fosse o trem. Nestes casos geralmente era de carro. Como naquela época como não havia comunicação telefônica entre Porto Franco e Areia Branca, usavam-se a comunicação visual. Essa comunicação visual durante o dia consistia em um mastro que foi colocado em Porto Franco acima da linha divisória do manguezal, onde no topo do mesmo era içada uma bandeira vermelha. E a noite, o carro ficava posicionado para Areia Branca, acendia e apagava continuadamente os faróis. Quando isto acontecia, lá ia a Ida cumprir sua missão. Os freqüentadores da beira do cais estavam tão habituados com esses sinais, que caso divisasse a bandeira ou os faróis do carro, e a Ida não se movimentasse, era sinal de que seu Luiz não havia visto, e iam ate a casa do mesmo avisá-lo.
Nos dias de chegada do trem, sempre havia uma movimentação de pessoas no Tirol. Uns, aguardando a chegada de alguns familiares ou amigos. Outros apenas por curiosidade para checar a chegada de algum visitante desconhecido. E tinha aqueles que iam apenas se certificar da chegada de alguma “novata” de Mossoró, para o cabaré de Marina ou Beata. O termo “novata”, nada tinha a ver com a idade constante no registro de nascimento. Bastava apenas nunca ter freqüentado essas duas casas ou outras existentes em Areia Branca. Ai então havia a disputa dos “bons bolsos”, para ver de quem era a primazia de receber primeiro os carinhos (bem pagos) das “novatas”, pois o que se comentava em Mossoró, é que marítimos e estivadores, ganhavam “rios de dinheiro”. Algumas vezes, vinham três ou quatro “novatas”.
Posteriormente, a estrada carroçável ligando Areia Branca a Mossoró, abalou o sistema de passageiro pelo trem, e conseqüentemente as lanchas foram atingidas. Mesmo no período chuvoso em que a estrada se tornava quase intransitável, essa diminuição era visível. Quando saí de Areia Branca em 1964, as lanchas ainda estavam em função, apesar da precariedade. Posteriormente com a construção da BR 110, uma rodovia federal, que foi projetada para ligar Areia Branca ao Seridó, pois fim a movimentação de Porto Franco, não só de carga como de passageiros, e como não poderia deixar de ser, as lanchas de Luiz Cirilo também. Infelizmente o progresso, sempre nos deixa estas amargas lembranças.
FONTE - ERA UMA VEZ AREIA BRANCA

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